O Amor é tema recorrente entre os acadêmicos e religiosos. Na vida pessoal ou comunitária leva-se em consideração o amor ora como cimento que une os homens em relações harmoniosas, ora como elemento dissonante que perturba e adoece. Portanto torna-se necessário conceituá-lo e diferenciá-lo das paixões e das carências.
Vislumbraríamos um futuro mais nobre para a humanidade se aprendêssemos a amar como o Cristo ensinou. No entanto, é cada vez mais presente, na vida ordinária e atual, declarações contundentes de desamor travestidas de bons afetos.
Consideremos dois expoentes desta calorosa discussão:
Sócrates, o polêmico filósofo, e Cristo, o Senhor do Amor.
A distância entre eles, talvez tenha trazido para a humanidade atual os desvios que hoje se apresentam em uma forma de viver estagnada, dissimulada e fantasiosa. Portanto é salutar compreendê-los em suas intenções abrangentes e plenas, para que não nos afastemos em demasia do Bom Caminho.
Nos diálogos do Banquete, onde o Amor foi o prato principal, Platão escreve que Sócrates, dotado de sedutora retórica, concebe o amor como sendo de natureza erótica. Aquele que ama por esta perspectiva age de maneira egoísta, pensando na sua própria satisfação. Neste contexto, o amor advém das carências e dos vazios da Alma.
O amante busca no ser amado aquilo que lhe falta, deixando claro que somos seres incompletos, amputados e que devemos caminhar em direção a este outro (o próximo).
Para Sócrates o amor não é bom nem mal e o que pauta a estrutura do discurso é a Eudaimonia, ou seja, a busca pela felicidade. Portanto, nesse caso existe um objetivo, um telos a ser conquistado. Eis o problema do conceito, que possivelmente degenerou na forma de amor-carência ou, como chamamos hoje, o amor romântico: é a ideia de que a minha felicidade depende do encontro com a “metade” da qual sou carente, a “minha cara metade”.
Muitos apostam que a felicidade depende do amor recebido pelas pessoas que nos cercam e esquecem-se das palavras de São Francisco:
É dando amor que se recebe amor.
Kiekeegard afirma que o objetivo do Cristianismo é o Amor Espiritual. Por outro lado, amor-paixão, amor-erótico e o amor-carência perdem a centralidade, o vigor e a luz. O Filósofo dinamarquês empenha-se em resgatar valores espirituais que foram enfraquecendo no transcurso da História.
A cultura grega renasceu no seio da Europa com o renascimento, e o valores cristãos sofreram influência desta cultura. Dessa forma, o Poder Espiritual original do cristianismo ficou entremesclado com leituras filosóficas e profanas, sendo, portanto, relativizado até os dias de hoje, onde ganhou conotações psicologizantes.
A ideia de Amor Crístico, o Bem Supremo, no cristianismo é prático.
E, por isso, ética.
O conceito de amor sofreu várias deformações e afastou-se do Poder Central e Solar do Cristo. A sensualidade, a idolatria, o narcisismo e o culto geral à vaidade representam amor egoísta e ainda animalizado. Estão muito distantes do Verdadeiro Amor Cristão, que ama de forma irrestrita.
Por isso para Kiekeegard a única saída possível para o homem egocentrado é deslocar o foco do amor dirigido ao próprio eu (egocêntrico) para o próximo (nosso irmão em espírito).
Mas Quem é o Próximo?
Para Kiekeegard:
“O Próximo é o igual. O Próximo não é a pessoa amada, pela qual tu tens a predileção da paixão. O próximo não é, de jeito nenhum, se tu és alguém culto, a pessoa culta, com quem tu compartilhas a igualdade dos homens diante de Deus. O próximo não é de jeito nenhum, alguém que é mais distinto do que tu, pois amá-lo por ser ele, mais distinto do que tu, pode ser bem facilmente preferência, e neste sentido amor a si mesmo. De maneira alguma, o próximo é alguém mais humilde do que tu, ele não é o próximo, pois amar alguém que é mais pobre do que tu, bem pode ser condescendência da preferência, e neste sentido é amor a si mesmo. Não, Amar o próximo é igualdade…pela igualdade contigo diante de Deus, ele é teu próximo, mas esta igualdade absolutamente todo homem tem, e a tem incondicionalmente”( Kiekeegard em As obras do Amor).
O Amor Cristão provém de Deus e não do Indivíduo, mas cabe a cada um de nós
cumprir o mandamento do Amor.